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Ausência de políticas públicas aumenta perigo das pragas urbanas

ALERTA

Limpeza pública regular, campanhas educativas e armadilhas ecológicas são ideias para combater a proliferação

A síndica Márcia Melo não aguenta mais as reclamações sobre tantos pombos tomando conta dos espaços do condomínio que administra, no Dionísio Torres. A dona de casa Tânia Petrolino vive tendo problemas com baratas e cupins. O pedreiro Alexandre da Silva já perdeu as contas das vezes que tentou acabar com os ratos que resolveram “morar” no quintal de sua casa, na Barra do Ceará. O mecânico vive irritado com os pardais que fazem ninhos no telhado da oficina onde trabalha, no Centro. A verdade é que ninguém está livre das chamadas pragas urbanas. Elas estão por toda parte e, segundo especialistas, é mais fácil o fim da raça humana do que essa “turma” sumir do mapa.

Os pombos se ajustam ao meio em que vivem e comem de tudo Foto: Lucas de Menezes

A culpa é nossa e da facilidade de adaptação desses animais a qualquer mudança, apontam veterinários e biólogos. Espécies como pombos e pardais, que tomaram conta de Fortaleza, e infernizam a vida de muita gente, são exemplos disso. Segundo o professor da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e doutor em doenças das aves, William Cardoso Maciel, existe mais mito do que realidade sobre o assunto. “Essas aves aprenderam a viver no meio urbano, comendo de tudo, até carne e pizza, e se reproduzem com muita rapidez”.

Ele reconhece que esses animais representam perigo, pois podem transmitir doenças, como a pneumonia, através de suas fezes. “No entanto, isoladamente, isso não constitui perigo e sim, aliado ao ambiente sujo. Por isso, o problema é questão de limpeza pública e conscientização da população para que não ofereça comida”, aponta o professor.

O controle da reprodução com a colocação de ninhos trampo (armadilhas) é outro ponto defendido pelo especialista. “Com esses ninhos, é possível trocar os ovos dos pombos e pardais por ovos de plástico”, diz.

Dentre a infinidade de pragas com as quais o homem é obrigado a conviver, aquela que é considerada “a praga do século” é o cupim, principalmente a espécie de origem asiática, de nome científico Coptotermes gestroi, também conhecida como “cupim subterrâneo”, que vem se multiplicando rapidamente.

O biólogo Jayme Pesqueira alerta para eles. “Devemos estar atentos aos primeiros sinais de infestação, que são o aparecimento de furos na madeira, galerias, produção de granulados que, na verdade, são as fezes dos insetos ou as chamadas brocas, com ação semelhante”, salienta.

Combate

Como são extremamente sensíveis à luminosidade, os cupins caminham por dentro das estruturas por meio das rachaduras de concretos, tijolos, espaços vazios, tubulação de encanamento e conduítes elétricos. Dessa forma, frisa, só se descobre o cupinzeiro quando os cupins ficam aparentes, ou seja, deixam rastros de destruição. “Isso geralmente ocorre quando a colônia já se instalou há algum tempo”, explica.

Ele indica que procurar uma empresa especializada e que esteja legalmente instituída perante os órgãos competentes, com a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) é uma saída. “Não se meta a querer resolver sozinho o problema, pois mexer com veneno é perigoso”, aconselha.

Com relação aos ratos, escorpiões e baratas, outras pragas que apresentam sérios riscos à saúde, o biólogo indica o mesmo comportamento. “É importante buscar a orientação de pessoas qualificadas para não correr mais perigo do que esses animais em si”, diz.

Expansão

A expansão habitacional obriga os insetos a mudar de hábitos para sobreviver. “Uma colônia de cupins que vivia numa árvore terá que procurar outro abrigo, caso sua moradia seja derrubada”, explica o vice-presidente da Associação das Empresas de Controle de Pragas do Ceará (Aceprag), Alisson Sousa.

O clima cada vez mais quente, com invernos menos rigorosos, piora o quadro, analisa. De acordo com ele, no calor, o ciclo biológico dos insetos é mais acelerado. Eles se reproduzem mais vezes porque o calor ajuda os ovos a eclodirem antes. Alisson orienta a pessoa que enfrentar alguma praga em casa a procurar empresas especializadas e certificadas. Para isso, a entidade promove cursos de capacitação e faz um trabalho de conscientização.

Cães, gatos e soins não são pragas, mas preocupam

“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Definitivamente, a frase do escritor Antoine de Saint-Exupéry não corresponde ao comportamento da guarda irresponsável de pessoas que jogam na rua e ao desamparo cães e gatos. Em Fortaleza, 25 mil animais das duas espécies estão abandonados, segundo cálculos do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) da Capital.

O veterinário Francisco Barroso Pinto esclarece que nem cachorro, nem gato ou soim são considerados pragas urbanas. “Claro que eles transmitem raiva e outras doenças como calazar ou leptospirose, mas são mais vítimas dos seres humanos do que o contrário”, aponta.

Não existem políticas públicas para o controle dessas populações, apenas, esclarece o veterinário, o CCZ retira das ruas apenas os animais doentes e vacina os demais. Com relação ao soim, nem isso pode ser feito. “Por não existirem vacina e eles serem animais silvestres e protegidos por lei federal”, informa.

Francisco esclarece que o CCZ não possui estrutura e recursos necessários para realizar esterilizações e fornecer acolhimento a todos os cachorros e gatos que vivem nas ruas.

No entanto, destaca ele, o CCZ promove campanhas educativas para conscientizar as pessoas sobre a guarda responsável e incentivo à doação de felinos e caninos na Capital cearense.

Segundo Francisco, a falta de compromisso de tutores com o bem-estar animal é o fator que mais tem ocasionado a rejeição e o abandono.

Especialistas e ativistas em prol dos direitos dos animais defendem que o futuro dono de um bicho, seja ele comprado ou adotado, deve ter em mente que o pet não é brinquedo quando filhote, descartável quando adulto. “É preciso que todos tenham isso em mente”, frisa ele.

União Internacional Protetora dos Animais (Uipa) é outra entidade que assumiu o papel de evitar o abandono. A presidente Geuza Leitão afirma que luta, juntamente ao Ministério Público Estadual, para que a Prefeitura desenvolva políticas públicas para adoção e castração, mas não obteve sucesso. Mesmo assim, faz a esterilização com a ajuda de veterinários. Por mês, são 220 castrações, contribuindo para controlar a natalidade.

“Sem isso, os animais se reproduzem muito rápido e são jogados nas ruas por donos que não fazem a posse responsável. Muitos morrem também atropelados e envenenados”, alerta.

Diante da falta de políticas públicas abrangentes do poder municipal, entidades como a União Protetora dos Animais Carentes (Upac Fortaleza) trabalha desde 2006 resgatando, castrando e promovendo eventos de adoção. Antes de disponibilizar os cães e gatos para apadrinhamento, a ONG vacina e esteriliza esses animais.

FIQUE POR DENTRO

Visitantes indesejados

Apesar de serem considerados visitantes indesejados, todas as pragas têm a sua função na natureza. Infelizmente, apontam estudiosos, em função do desequilíbrio ambiental, elas migraram para a zona urbana. Antigamente, dizem, tudo funcionava diferente e o habitat das pragas era no meio rural. Lá, os cupins e os ratos tinham a função de transformar as árvores velhas em adubo para o solo. Depois as formigas aeravam a terra, preparando-a para o plantio. Depois vinham os pássaros e faziam a polinização. Com o desmatamento, os cupins chegaram às cidades e, sem discernimento, destruíram os nossos móveis.

Já o pombo mais comum observado em Fortaleza possui o nome científico de Columba livia e vive cerca de quatro anos. Sua alimentação é à base de sementes e grãos, mas, com o passar dos anos e a necessidade de sobrevivência no “mundo civilizado”, elas tiveram que se adaptar e hoje aproveitam tudo o que encontram nas ruas, inclusive lixo. É uma ave de origem europeia, que foi introduzida no Brasil no século XVI. Especialistas apontam três fatores como fundamentais para a proliferação da espécie na Capital: a alimentação farta, principalmente nas proximidades da Catedral, onde existe comércio de grãos variados; locais de reprodução ideais (buracos das caixas de ar condicionado ou frestas nas paredes) e a pouca existência de predadores (corujas e gaviões).

As baratas serão uma das poucas espécies a sobreviver se uma bomba atômica for jogada. Elas resistem até um mês sem comida, uma semana sem água e 40 minutos sem respirar. Seus ovos são imunes a todo tipo de produto químico.

Já os carrapatos pertencem ao grupo dos ácaros e estão se tornando uma praga. Com o aumento da população de mamíferos, é cada vez mais frequente o aparecimento de carrapatos em parques públicos, matas ciliares, rios e lagos.

FONTE: diariodonordeste

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